Luciano Meira é PhD em educação matemática pela Universidade da Califórnia (Berkeley/1991), mestre em psicologia cognitiva e bacha rel em pe da gogia. Atua como professor adjunto de psicologia na Universidade Federal de Pernambuco, professor colaborador do mestrado em design do C .E . S.A .R, bolsista de CNPq e coordenador de ciência e inovação da Joy Street, uma empresa de tecnologias educacionais lúdicas do Porto Digital, da qual é sócio-fundador. Nesta entrevista, Meira fala sobre como readequar a escola às novas competências exigidas no ensino atual.Fala-se na falência do modelo tradicional escolar. Como e por que reinventar a escola? Reinventar a escola é necessário para torná-la o centro da comunidade, o território democrático de gestação e acolhimento da diversidade, do desenvolvimento das competências para o novo mundo do trabalho e das estratégias necessárias para lidarmos com problemas complexos, como as severas mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global. Os métodos para essa reinvenção são bastante diversos. Há nomes historicamente comprometidos tais como Paulo Freire e John Dewey, apenas para citar dois internacionalmente reconhecidos, mas todos passam por um entendimento dos contextos específicos que desejamos reinventar. Assim, se faz necessária a construção de um plano político pedagógico que escute os agentes locais da reinvenção, mas também traga a inovação para o centro do debate.Para mim, uma arquitetura de inovação para a escola inclui transformações em pelo menos quatro camadas: lugares físicos e artefatos de aprendizagem, inclusive digitais; quantidade e intensidade de experiências significativas de aprendizagem; construção de relações afetivas e intelectuais entre os agentes da aprendizagem; e formação de redes que emprestem sustentabilidade às mudanças.
Ludicidade, no seu ponto de vista, é coisa de criança? Como podemos transformar toda a escolarização baseada na pré-escola? O lúdico, a brincadeira como uma de suas formas mais compartilhadas, mas também os jogos analógicos ou os jogos digitais, inclusive o jogo simbólico capaz de provocar o prazer e a curiosidade, todos são marcas do sujeito psicológico em qualquer fase do desenvolvimento, da criança à pessoa idosa. O reconhecido psicanalista Donald Winnicott, por exemplo, propõe em O brincar e a realidade que “no brincar, e somente no brincar, o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu.” Mitchel Resnick, pesquisador do Media Lab no MIT propõe, de fato, que talvez toda a escola e mesmo o ensino superior devesse, nesse sentido, valorizar o aspecto lúdico e desejante da produção de conhecimentos, através de práticas relativamente simples como a realização de projetos que despertem paixão nos estudantes, e nos professores e professoras. Na Joy Street temos realizado esse propósito desenvolvendo um ambiente de aprendizagem estrategicamente estruturados através de arquiteturas de engajamento que trazemos do mundo dos videogames, processo que chamamos de gamificação.
Precisamos de soluções urgentes para atender o mercado 4.0. Qual caminho trilhar? Realizar a formação em escala e em rede de pessoas, com foco no desenvolvimento de competências e habilidades, baseadas em conhecimento científico e ao mesmo tempo com o caráter pragmático da tomada de decisões e resolução de situações-problema. Precisamos, portanto, do conhecimento científico gerado nas universidades (especialmente a universidade pública de qualidade e estrategicamente posicionada) e de plataformas digitais capazes de engajar milhares de estudantes, educadores e profissionais em trilhas de aprendizagem mais significativas, mais autorais e que incentivem o protagonismo dos aprendizes.
Como criar e inovar na escola brasileira e quais as principais prioridades no que diz respeito à educação? Financiamento abundante, consistente e bem gerido. Foco no debate sobre o desenvolvimento de competências, sempre dentro de fundamentação e legitimidade científicas. Democracia de acesso e no acolhimento da diferença. Formação diversificada e inovadora de educadores e gestores públicos. Implementação de pedagogias com foco na transformação digital.
Via: Diário de Pernambuco
Por: Simone Novaes