Brasília – O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou ontem, como de costume, pelo Twitter, o nome que faltava para compor a Esplanada dos Ministérios a partir de 2019. O advogado e administrador Ricardo de Aquino Salles, do partido Novo, será o ministro do Meio Ambiente. Com a nomeação, o futuro chefe de Estado fecha o governo com 22 pastas — sete a mais do que havia proposto durante a campanha eleitoral, quando prometeu enxugar a máquina pública para apenas 15.
Um dos criadores do movimento Endireita Brasil e filiado ao partido Novo, Salles concorreu neste ano a deputado federal pela sigla, mas não conseguiu se eleger. Durante a campanha, inclusive, chegou a ser repreendido pela legenda, após sugerir o uso de armas contra o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) em uma publicação nas redes sociais.A legenda disse não concordar com o teor das postagens dele. O Estado de Minas procurou o Novo para comentar a nomeação do advogado. Contudo, a sigla preferiu não falar, mas ressaltou não ter sido uma indicação feita pela própria legenda.
Entre 2016 e 2017, o futuro ministro trabalhou como secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo. Foi secretário particular do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). À época, ele e mais duas funcionárias da equipe foram alvos de uma ação de improbidade administrativa por suspeita de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do rio Tietê.
Ricardo Salles disse que seu papel à frente da Pasta será defender o meio ambiente e respeitar o setor produtivo. Para Bolsonaro, o ministério precisa se aproximar dos ruralistas. O presidente eleito já defendeu acabar com o que chama “indústria de multas” no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e no ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). “Defender o meio ambiente e ao mesmo tempo respeitar todos os setores produtivos do Brasil é o que sintetiza muito nosso sentimento”, disse Ricardo Salles, após ser confirmado para o cargo. Hoje, ele irá a Brasília para começar a trabalhar na equipe de transição do governo eleito.
Desde a vitória de Bolsonaro nas urnas, o Ministério do Meio Ambiente foi alvo de polêmicas. O presidente eleito afirmou que juntaria a pasta com a Agricultura, mas decidiu mantê-las independentes após repercussão negativa entre pesquisadores, ambientalistas e, inclusive, ruralistas. Mesmo com a desistência, Bolsonaro declarou que a pessoa escolhida para comandar a pasta ambiental deveria estar alinhada com as premissas da deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), indicada pela bancada ruralista para o ministério da Agricultura.
Avaliação
O analista político Creomar de Souza, professor da Universidade Católica de Brasília, aponta que as polêmicas sobre a montagem do primeiro escalão funcionarão como um teste para saber se os nomes são os ideais para ocupar a Esplanada. Para o especialista, todo início de governo passa por processos de acomodação de forças políticas. No caso de Bolsonaro, a reviravolta ocorre porque o PSL era um partido nanico e se tornará um dos mais fortes do Congresso. “Ele cresceu muito, então, é preciso ajustar algumas questões, porque já é possível ver conflitos dentro da própria base da legenda. Inclusive porque alguns políticos não se sentem contemplados por essa política de indicação do Bolsonaro”, explica.
Segundo Souza, Bolsonaro conseguiu manter a linha na qual se prontificou em assumir de liberal na economia e conservador nos costumes. Todos os secretários e subsecretários do time econômico têm o mesmo perfil da Universidade de Chicago, com pautas ultraliberais. Por outro lado, nomes que vão chefiar pastas sociais seguem uma dinâmica conservadora, como a pastora Damares Alves, no ministério dos Direitos Humanos, e Ricardo Vélez-Rodríguez, na Educação. O último, inclusive, fez declarações incisivas contra a ideologia de gênero e a favor dos “valores tradicionais da sociedade, que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo”.
Via: Diário de Pernambuco
Por: Simone Novaes