A ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou, nesta terça-feira (11), que a marca de "100 mil mortos é uma tragédia". A magistrada se referiu a quantidade de brasileiros mortos por coronavírus e criticou a desigualdade no país, aumento do desemprego, da população de rua e disse meios virtuais são usados para atacar determinadas manifestações de pensamento.
Cármen Lúcia participou de um seminário virtual sobre a democracia realizado pelo Instituto dos Advogados Brasileiros. "100 mil mortos é uma tragédia. 100 mil mortos não precisava ter acontecido, em que pese ser fato que este coronavírus é realmente uma doença grave e que acometeria muita gente. Mas foi uma atuação estatal, aliada a uma atuação em parte de uma sociedade perplexa, aturdida diante de tantos desmandos, de tanta falta de orientação segura, seguindo-se a ciência e a medicina de evidências. que nos levou a um fim de semana de luto. Portanto, luto que impõe luta permanente pela democracia", afirmou a ministra.
Ela criticou, também, o avanço de índices de desigualdade social e de desemprego, que já atinge 15 milhões de brasileiros neste ano. "A fome é urgente, o frio é urgente... Eu não sei nem se podemos cobrar dessas pessoas que saibam o que é certo ou errado", completou.
Cármen destacou que as desigualdades sociais e a perseguição política contra quem pensa diferente tem ameaçado o sistema democrático. "A democracia tem na sua própria vocação a entrega a todos, incluídos aí os que são contra ela, o direito de radicalmente se por contra ela. E este é desafio que agora se tornou patente, que é, no nosso tempo, que a tecnologia enfatizou, porque temos e tivemos sempre aqueles que matam os que eram adversários e viraram inimigos, mas agora temos milícias digitais que matam moralmente, matam todas formas de pensamento que não sejam coerentes com o dono da fórmula com que se põe na rua ou virtualmente na casa de todo mundo", disse.
O ministro Luís Roberto Barroso, que também participou do evento, declarou que as democracias estão morrendo, atualmente, de maneira diferente do passado. Para o magistrado, o sistema democrático sucumbe aos poucos, por meio de atos de pessoas eleitas democraticamente e que vão destruindo as bases participativas da sociedade de maneira lenta e gradual. "As instituições precisam oferecer resistência ao poder. E acho que no Brasil, e felizmente, nós temos conseguido fazer isso," disse Barroso.
Via: Diario de Pernambuco