Após muita expectativa, Paulo Guedes, o “guru” do presidente Jair Bolsonaro, finalmente discursou como ministro da Economia do novo governo. Ele defendeu a reforma do Estado e fez duras críticas ao excesso de gastos do passado e à apropriação da máquina pública por autoridades. O chefe da área econômica classificou como “piratas privados”, “burocratas corruptos” e “criaturas do pântano” os políticos que se aproveitaram de bancos públicos para obter benefícios. Ressaltou que a classe política, que tomava as decisões até agora, permitiu que o Brasil fosse “corrompido” pelo excesso de despesas, o que resultou na interrupção do crescimento da atividade econômica. Enfatizou que a reforma da Previdência será o item prioritário da gestão que assumiu para corrigir as distorções e defendeu, com veemência, a manutenção do teto de gastos.
Foto: Valter Campanato
Guedes adiantou que os primeiros atos de ajuste — que não precisarão passar pelo Congresso — começam a ser divulgados a partir de amanhã pelo secretário de Previdência e Trabalho da Economia, Rogério Marinho. O governo vai editar uma medida provisória (MP) para combater fraudes e concessões indevidas de recursos. A MP fará parte de uma “enxurrada” de ações que serão adotadas nos próximos 30 dias e que não alteram a Constituição.
O projeto de mudanças nas aposentadorias está sendo revisto e será apresentado apenas em fevereiro, quando começa a nova Legislatura do Congresso. Ao defender a reforma previdenciária, o novo ministro afirmou que o sistema atual é uma “fábrica de desigualdades”. “Quem legisla e julga tem as maiores aposentadorias e a população, as menores”, disse, sendo bastante aplaudido pela plateia.
Bombas
Em referência à criação da carteira de trabalho verde-amarela, o ministro afirmou que Bolsonaro “vai inovar e abandonar a legislação fascista” da CLT. Ele defendeu a separação dos benefícios assistenciais da conta da Previdência, acrescentando que o sistema atual, de repartição, “traz várias bombas, bomba demográfica, bomba do financiamento…”.
Guedes disse, porém, que não será um “superministro”, como tem sido apresentado. “Não existe superministro, não existe alguém que vai consertar os problemas do país sozinho, os Três Poderes terão que se envolver”, ressaltou. Ele cuidará dos antigos ministérios da Fazenda, do Planejamento, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) e de parte da pasta do Trabalho.
O responsável pela nova cara da política econômica do país solicitou ajuda aos parlamentares para avançar com as reformas. Guedes disse que, se a reforma da Previdência for aprovada, o país terá 10 anos de crescimento sustentável pela frente, com maior expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e investimentos. Mas, sem essa medida, alertou, o governo precisará trabalhar com uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para flexibilizar o uso das verbas federais, permitindo a desvinculação e a desindexação de despesas obrigatórias, “que engessam 93% do Orçamento”.
Cortes
Na avaliação do ministro, o controle de despesas não precisa ser feito mediante cortes drásticos, bastando evitar que elas cresçam no ritmo atual. O teto de gastos, segundo ele, é fundamental, mas são necessárias reformas para sustentá-lo. “O teto, sem parede de sustentação, cai. Temos que aprofundar as reformas, que são as paredes”, comparou.
Guedes defendeu menor intervenção do Estado na economia. Para ele, não há dúvida de que temos uma “democracia resiliente”, que vem sendo testada nos últimos 30 anos, e que agora passa por uma nova era de revezamento do poder, assumido por “conservadores nos costumes e liberais na economia”.
Segundo o ministro, privatização e a simplificação de tributos serão “pilares” da nova gestão. Ele ressaltou o perfil técnico da equipe, que vai recolocar o país nos trilhos do crescimento sustentável. O grande número de áreas que ficarão sob a responsabilidade do ministério não será empecilho. “É só para todo mundo cantar na mesma música. E os Chicago Oldies conhecem bem essa canção”, disse Guedes, em alusão à equipe montada com base na Universidade de Chicago, que é o berço do neoliberalismo.
Via: Diário de Pernambuco
Por: Simone Novaes